quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Foro de São Paulo completa 20 anos reunindo a América Latina e o Caribe em Buenos Aires

Luiz Antônio Alves
*Correspondente da Agência Brasil na Argentina*

Buenos Aires - Criado em 1990, quando faltavam poucos meses para o fim da
União Soviética e em meio à dissolução do bloco socialista europeu, o Foro
de São Paulo comemora 20 anos realizando sua 16ª reunião na capital
argentina, buscando ampliar o conceito que resultou em sua criação pelo
Partido dos Trabalhadores (PT) e por outras organizações políticas da
América Latina e do Caribe. De acordo com Valter Pomar, secretário de
Relações Internacionais do PT e secretário executivo do Foro, a organização
quer consolidar a participação dos partidos de esquerda, progressistas e
populares nos governos da região. Segundo Pomar, esses partidos já estão
presentes em número expressivo de governos latino-americanos e caribenhos.

Outro objetivo do Foro de São Paulo, na reunião em Buenos Aires, é
"aprofundar o processo de integração continental. Temos um processo bastante
avançado mas ele pode avançar muito mais no âmbito cultural, econômico,
politico e de defesa. Achamos que tudo que acontece em um país depende da
sua integração, e vice-versa". O secretário executivo do foro acrescenta um
terceiro objetivo da reunião: "evitar que tenha sucesso o contra-ataque da
direita, que faz o que pode e o que não pode para retomar espaço na América
Latina".

Os integrantes do Foro de São Paulo acreditam, segundo documento que serve
de base para as discussões que acontecem em Buenos Aires, que a integração
latino-americana e caribenha pode ser demonstrada por meio de diferentes
instituições, como é o caso da Aliança Bolivariana para os Povos da América
Latina e o Caribe (Alba) e da União das Nações Sul-Americanas (Unasul). O
documento também afirma que a própria Organização dos Estados Americanos
(OEA) tem passado por mudanças substanciais em suas relações com os Estados
Unidos e com os países latino-americanos. Um exemplo dessas mudanças,
segundo o documento, é a recusa sucessiva de três candidatos apresentados
pelo governo norte-americano para ocupar a secretaria-geral do órgão. O
documento afirma que, até agora, os Estados Unidos "manejavam à vontade"
este cargo.

Sem fazer referência a nomes, o documento também diz que "a nova realidade
da América Latina pode ser vista com maior clareza quando comparada com o
panorama que prevalecia em décadas anteriores, marcadas por uma sucessão de
ditaduras militares. A caracterização social dos governos mudou, com os
casos paradigmáticos de um operário metalúrgico ou de um líder indígena que
chegaram à Presidência de seus países por meio de milhões de votos de seus
compatriotas". Para os dirigentes do Foro de São Paulo, a política de
esquerda de alguns governos latino-americanos gerou benefícios concretos
para a população, particularmente aos setores mais excluídos". Além disso,
esses governos ampliaram e aprofundaram a democracia, abrindo espaço para
novas formas participativas e diretas da população.

O documento-base do Foro de São Paulo critica "o cataclismo financeiro
iniciado nos Estados Unidos que se propagou rapidamente pelo resto do
mundo", afirmando que esta não é apenas uma crise financeira, mas do próprio
sistema capitalista. "A recuperação é incerta e há riscos de que o mundo
caia novamente numa recessão global", diz o documento, "tendo como custo a
pobreza e o desemprego. A falta de oportunidades de trabalho continuará
elevada no mundo por vários anos".

Por outro lado, o foro destaca que a crise não foi tão aguda, pelo menos em
algumas áreas da América Latina, porque em vários países da região foram
aplicadas políticas que compensaram, em grande parte, o impacto recessivo.
"Estas políticas", segundo o documento, "foram possíveis porque os países
acumularam importantes reservas monetárias que puderam ser usadas para
compensar a queda das exportações e a saída de capitais".

As diversas delegações de países latino-americanos e caribenhos que
participam da 16ª Reunião do Foro de São Paulo estão discutindo a fundação
de escolas e centros de capacitação, politicas de defesa regional e
continental, o meio ambiente e as mudanças climáticas, a democratização dos
meios de comunicação, a soberania nacional e a descolonização, entre outros
temas. O encontro em Buenos Aires termina na próxima sexta-feira (20), com a
divulgação das resoluções finais.

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