terça-feira, 15 de março de 2011

DESORDEM FINANCEIRA E CATÁSTROFE JAPONESA

Paul Krugman já especula se a reconstrução japonesa poderá significar para a crise atual do capitalismo, guardadas as proporções, o mesmo que a 2º Guerra mundial representou para o colapso dos anos 30. A reconstrução de uma sociedade rica, varrida sucessivamente, em questão de horas, por um dos maiores terremotos da história, seguido de um tsunami e  agora às voltas com o risco de um armagedon nuclear, avulta como um enorme desafio de mobilização de recursos. Recursos ociosos  não faltam na convalescença do colapso  neoliberal. A crise de 2007 e 2008 abalou os mercados financeiros, mas a engrenagem da riqueza fictícia  foi preservada por medidas anti-cíclicas amigáveis. Hoje, ela se materializa em surtos desenfreados de especulação e fome urbi et orbi. Falta a esse dinheiro errático uma rota de longo curso num mundo prostrado pela anemia norte-americana e européia que a China sozinha não consegue compensar. A tragédia japonesa pode significar para esses capitais a alavanca de  'destruição criativa' que esmigalha vidas e patrimônios, dissemina dor e fúria, mas reordena a reprodução desarticulada pelo excesso anterior? Resta saber se o passo seguinte da tragédia inconclusa seguirá essa dinâmica, ou se a memória viva de 2007/2008,  catalizada pela dor descomunal do povo japonês criará o espaço para o surgimento de um novo Estado do Bem-Estar social na agenda do século XXI. A ver.

(Carta Maior; 4º feira, 16/03/2011)
 

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