A
zona do euro tem cerca de 16,5 milhões de desempregados e nenhum líder
político capaz de contrastar o naufrágio num oceano de ortodoxia,
mediocridade e rapinagem especulativa. Esta manha,ondas especulativas
voltara a acuar a Espanha e a Itália exigindo juros maiores para
financiar as respectivas dívidas públicas. Os EUA tem na Casa Branca um
símbolo da indiferenciação ideológica que propiciou a supremacia do
Tea Party. A contrapartida disso são 20 milhões de norte-americanos
desempregados – isso sem computar o desemprego disfarçado de prisão: 1%
da população adulta dos EUA está encarcerada, negros pobres, em sua
maioria; o país tem 25% dos presos do mundo, uns 2,3 milhões de
norte-americanos. Em julho, as empresas norte-americanas criaram 110 mil
vagas de trabalho; um pingo d´água inferior ao de junho ( 157 mil).
Para dar algum alento à esperança seriam necessários 200 a 250 mil
empregos/média por vários meses. Nos últimos dias, algumas das maiores
corporações do planeta, como a Merkel, banco Santander etc fecharam 80
mil vagas de trabalho. É a tendência do vento. A taxa de crescimento
anual da economia norte-americana no segundo trimestre ficou em 1,3%. A
menor desde o início da recessão em 2009. Os gastos dos consumidores
–que movimentam 60% do país—caíram 0,2% em junho. Parece pouco, mas
significa estagnação quando se precisa de saltos olímpicos para começar a
sair do buraco. É sobre esse metabolismo anêmico que o Tea Party
prescreveu e Obama engoliu um choque de “Estado mínimo”, com arrocho nos
gastos e investimentos estatais por 10 anos. Dez anos. Keynes e
Roosevelt trocaram síncopes cardíacas no além e 95 democratas (da ala
social-democrata), metade da bancada do partido na Câmara, votaram
contra. Não por acaso quem tem dinheiro em ações de empresas –portanto
depende de crescimento dos negócios para lucrar-- disparou ordens de
vendas que derrubaram as bolsas do mundo ontem e hoje. O Brasil deve
amarrar o burro em outra praça. A economia americana por longos anos não
exercerá mais o papel que já teve de alavanca mundial. Mais que nunca
estava certa a estratégia reordenadora do governo Lula. Pós-palocci,
trocou-se o alinhamento carnal com os EUA pela integração regional,
mais um choque de investimento público e social que redefiniu a
fronteira da demanda doméstica. Ao governo Dilma cabe avançar um degrau
nessa direção. O nome do degrau é redução dos juros -- negociada
politicamente com sindicatos e empresas para evitar choque de preços.
Não há política industrial que faça o milagre de driblar a retração em
curso com juros reais de 6,8% ao ano.
(Carta Maior; 4ª feira, 03/08/ 2011)
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