Domingo,
6 de agosto, Tel Aviv: 350 mil israelenses protestam nas ruas por
melhores condições de vida. Segunda- feira, 7 de agosto, Londres:
distúrbios sociais iniciados nos subúrbios pobres transformam-se em
explosão viral que envolve milhares de jovens em diferentes pontos do
país. Terça-feira, 8 de agosto, Santiago: 150 mil estudantes vão às ruas
em defesa de uma reforma educacional que universalize o ensino
público, gratuito, de qualidade. O que interliga esses levantes quase
sincronizados em lugares tão díspares, antecedidos de rebeliões massivas
que irromperam como que abruptamente das areias dos países árabes e da
modorra social em outras partes do mundo? A mera coincidência do
calendário? Certamente não. A resposta mais próxima talvez tenha que
ser buscada na percepção difusa mas crescente, enraivecida em alguns
casos, consciente em outros, da brutal desigualdade herdada do ciclo de
supremacia das finanças desreguladas -- o ciclo dos bancos, o dos
endinheirados, das corporações invisíveis e ubíquas ao mesmo tempo.
Sejam quais forem as denominações sedimentadas no discernimento
popular elas guardam aderência com a intolerável espiral de privilégio
que consolidou duas humanidades socialmente imiscíveis nas últimas
décadas. Em quase todos os países, e na maioria das grandes cidades,
derrama-se, de um lado, a riqueza num grau de ostentação jamais
registrado na história; de outro, o bem-estar social e sua contrapartida
em subjetividade dissolvem-se em sucessivas ondas de saque,
desregulamentação e delinqüência institucional contra o patrimônio
público, os direitos, certezas e valores que enlaçam a convivência
compartilhada. No crepúsculo turbulento do ciclo, a ganância em fuga
ameaça agora esfarelar os últimos centímetros de chão firme de vidas
expostas às intempéries de toda sorte;e a tal ponto encurraladas por
dentro e por fora em sua precariedade estrutural que só lhes resta uma
fresta: as ruas.
(Carta Maior; 6º feira, 12/08/ 2011)
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