segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Monopólios dos EUA, FMI e pobreza no Haiti

A imprensa, como é o caso do The Guardian de 18 de janeiro, tem afirmado que “a situação de pobreza e fragilidade do Haiti estão na origem da enorme escala de horror que hoje se vive em Porto Príncipe”, mas não aponta nenhuma causa ou responsável por essa situação.

Na arrogância imperial dos EUA, na ganância dos monopólios norte-americanos e na política neoliberal imposta pelo FMI ao Haiti está a raiz de tamanha pobreza. É isso que a mídia monopolista tenta esconder.

Talvez o jornal britânico considere que não é bom que seus leitores se lembrem que o Haiti foi invadido militarmente pelos EUA, que os EUA patrocinaram vários golpes de estado e apoiaram ditaduras como a dos Papa e Baby Doc com os seus tonton macutes, que treinaram bandos paramilitares e, entre outras atrocidades cometidas contra o povo haitiano, desmontaram o Estado.

O país que já foi grande produtor e exportador de açúcar teve sua produção desorganizada e sua economia controlada pelos EUA há mais de meio século. Quase tudo no Haiti é importado dos EUA por empresas norte-americanas que também controlam as exportações do país.

O FMI completou o serviço exigindo que o Haiti dissolvesse o exército e aceitasse que ONGs, em vez do governo, recebessem dinheiro e ajuda para aplicar no país.

Sem Estado, sem exército, sem indústria, sem saúde, sem escolas, sem saneamento básico, sem controle do seu comércio exterior o Haiti ficou na mais absurda pobreza, impossibilitado de crescer e dependente de ajudas internacionais esporádicas.

O Bid se gaba de nunca ter saído do país e “ter experiência de trabalhar com o governo”. Já disputa ser o principal canal para receber e repassar aos haitianos os recursos financeiros das doações internacionais.
Com a população desempregada ou subempregada, 80% dela vive abaixo da linha de pobreza.

No dia seguinte ao terremoto um jornalista da Globonews dizia que “os EUA consideram que os haitianos são hostis a eles e que, ao contrário, são muito receptivos aos brasileiros”, e se perguntava qual seria o motivo...

Em outro noticiário televisivo não foi possível evitar o registro de um momento de profunda alegria de um haitiano que acabara de resgatar dos escombros uma mulher com vida. Feliz, ele comemorava. E nos comovia.

Em meio a tantas mortes o povo haitiano celebra a vida.

Pouco ou quase nada é dito sobre a coragem e a heróica resistência daquele povo que em meio a tantas perdas, solidários, se juntam para enterrar os familiares mortos, dividem um pedaço de pão ou um copo d’água, se unem, se apóiam e se fortalecem em meio a tragédia, pois sofreriam muito mais se não fosse assim.

Os monopólios de mídia têm insistido na “falta de coordenação em meio ao caos”. Alardeiam o descontrole, os saques e as ações de gangues.

Edmond Mulet, guatemalteco diplomata da ONU, em entrevista coletiva ontem em Porto Príncipe, disse que “a violência na capital não é generalizada, não há saques generalizados e não há gangues controlando a cidade como alguns meios de comunicação irresponsavelmente estão reportando” e que isso prejudica as ações para atender as vítimas.

O General Floriano Peixoto, brasileiro e comandante militar da Missão da ONU afirmou que “a situação está sob controle”, é menos grave do que a divulgada pela imprensa e que “os casos mais graves de violência na cidade não são generalizados”.
A imprensa tem subestimado o papel do Brasil na importante Missão no Haiti e o fato de que nas primeiras horas, na hora mais difícil em que aconteceu a catástrofe era o Brasil que estava ao lado dos haitianos. Lá 21 brasileiros perderam a vida ajudando o povo irmão, honrando o Brasil e os brasileiros. Nossos soldados junto ao povo cavavam os escombros com as próprias mãos em busca de sobreviventes e salvavam vidas. Deles, das tropas do nosso Exército muito nos orgulhamos.

O Presidente Lula não titubeou e no mesmo dia do terremoto chegaram a Porto Príncipe os primeiros aviões com médicos, bombeiros, comida, água, remédios e hospitais de campanha vindos do Brasil.

No Haiti não há escavadeiras para remover escombros, mas a primeira providência dos EUA foi enviar um porta-aviões com armas, dois navios de guerra, tomar o controle do aeroporto e do espaço aéreo e garantir o privilégio para cidadãos norte-americanos entrarem e saírem do país.

Outro problema gerado pelos EUA e apontado pela canadense Kim Bolduk, uma das coordenadoras do programa de distribuição de alimentos da missão da ONU, é a distribuição de alimentos jogados dos aviões em vôos rasantes. Ela pediu aos EUA que deixasse de fazer a distribuição de alimentos jogando pacotes de comida e víveres em certos lugares, pois esse método estava causando muitos problemas e tumultos, prejudicando a manutenção da ordem. Além do mais é um desrespeito com a população que tem de correr de um lado para outro sem saber onde cairão os alimentos. Só os pegam os que correm mais e são mais fortes.

Raymond Joseph, Embaixador do Haiti nos EUA também solicitou o fim dessa prática que “está provocando desordens”.

Os EUA aproveitaram a oportunidade para enviar mais dez mil soldados. “Como o Haiti é muito perto de Miami é preciso controlar uma provável fuga de haitianos para a Flórida. Desse modo não poderão dizer que os EUA estão invadindo o Haiti”, afirmou um jornalista no New York Times.

Dez mil soldados é uma nova invasão. Uma demonstração de que os EUA até hoje não aceitaram a derrota de terem tido que sair do Haiti para que lá ficasse a Missão da ONU composta por 36 países e liderada pelo Brasil.

A imprensa monopolista justifica. Afinal, o Haiti precisa de ajuda. Daí a necessidade de mostrar o pânico, o desespero, a falta de controle, a ação de bandidos roubando os bolsos dos cadáveres e tudo que deponha contra o Haiti, a Missão da ONU e sirva de desculpa para a ocupação do país pelas tropas dos EUA.

O momento agora é de reconstrução e recuperação do país e do Estado haitiano reforçando sua capacidade de impulsionar e induzir o desenvolvimento do Haiti como nação livre e independente. E a presença de dez mil soldados americanos “no terreno”, forçando a entrada sem autorização da ONU se constitui no maior obstáculo a isso.


ROSANITA CAMPOS

 Publicado no Jornal Hora do Povo

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