Na arrogância imperial dos EUA, na ganância dos monopólios norte-americanos e na política neoliberal imposta pelo FMI ao Haiti está a raiz de tamanha pobreza. É isso que a mídia monopolista tenta esconder.
Talvez o jornal britânico considere que não é bom que seus leitores se lembrem que o Haiti foi invadido militarmente pelos EUA, que os EUA patrocinaram vários golpes de estado e apoiaram ditaduras como a dos Papa e Baby Doc com os seus tonton macutes, que treinaram bandos paramilitares e, entre outras atrocidades cometidas contra o povo haitiano, desmontaram o Estado.
O país que já foi grande produtor e exportador de açúcar teve sua produção desorganizada e sua economia controlada pelos EUA há mais de meio século. Quase tudo no Haiti é importado dos EUA por empresas norte-americanas que também controlam as exportações do país.
O FMI completou o serviço exigindo que o Haiti dissolvesse o exército e aceitasse que ONGs, em vez do governo, recebessem dinheiro e ajuda para aplicar no país.
Sem Estado, sem exército, sem indústria, sem saúde, sem escolas, sem saneamento básico, sem controle do seu comércio exterior o Haiti ficou na mais absurda pobreza, impossibilitado de crescer e dependente de ajudas internacionais esporádicas.
O Bid se gaba de nunca ter saído do país e “ter experiência de trabalhar com o governo”. Já disputa ser o principal canal para receber e repassar aos haitianos os recursos financeiros das doações internacionais.
Com a população desempregada ou subempregada, 80% dela vive abaixo da linha de pobreza.
No dia seguinte ao terremoto um jornalista da Globonews dizia que “os EUA consideram que os haitianos são hostis a eles e que, ao contrário, são muito receptivos aos brasileiros”, e se perguntava qual seria o motivo...
Em outro noticiário televisivo não foi possível evitar o registro de um momento de profunda alegria de um haitiano que acabara de resgatar dos escombros uma mulher com vida. Feliz, ele comemorava. E nos comovia.
Em meio a tantas mortes o povo haitiano celebra a vida.
Pouco ou quase nada é dito sobre a coragem e a heróica resistência daquele povo que em meio a tantas perdas, solidários, se juntam para enterrar os familiares mortos, dividem um pedaço de pão ou um copo d’água, se unem, se apóiam e se fortalecem em meio a tragédia, pois sofreriam muito mais se não fosse assim.
Os monopólios de mídia têm insistido na “falta de coordenação em meio ao caos”. Alardeiam o descontrole, os saques e as ações de gangues.
Edmond Mulet, guatemalteco diplomata da ONU, em entrevista coletiva ontem em Porto Príncipe, disse que “a violência na capital não é generalizada, não há saques generalizados e não há gangues controlando a cidade como alguns meios de comunicação irresponsavelmente estão reportando” e que isso prejudica as ações para atender as vítimas.
O General Floriano Peixoto, brasileiro e comandante militar da Missão da ONU afirmou que “a situação está sob controle”, é menos grave do que a divulgada pela imprensa e que “os casos mais graves de violência na cidade não são generalizados”.
A imprensa tem subestimado o papel do Brasil na importante Missão no Haiti e o fato de que nas primeiras horas, na hora mais difícil em que aconteceu a catástrofe era o Brasil que estava ao lado dos haitianos. Lá 21 brasileiros perderam a vida ajudando o povo irmão, honrando o Brasil e os brasileiros. Nossos soldados junto ao povo cavavam os escombros com as próprias mãos em busca de sobreviventes e salvavam vidas. Deles, das tropas do nosso Exército muito nos orgulhamos.
O Presidente Lula não titubeou e no mesmo dia do terremoto chegaram a Porto Príncipe os primeiros aviões com médicos, bombeiros, comida, água, remédios e hospitais de campanha vindos do Brasil.
No Haiti não há escavadeiras para remover escombros, mas a primeira providência dos EUA foi enviar um porta-aviões com armas, dois navios de guerra, tomar o controle do aeroporto e do espaço aéreo e garantir o privilégio para cidadãos norte-americanos entrarem e saírem do país.
Outro problema gerado pelos EUA e apontado pela canadense Kim Bolduk, uma das coordenadoras do programa de distribuição de alimentos da missão da ONU, é a distribuição de alimentos jogados dos aviões em vôos rasantes. Ela pediu aos EUA que deixasse de fazer a distribuição de alimentos jogando pacotes de comida e víveres em certos lugares, pois esse método estava causando muitos problemas e tumultos, prejudicando a manutenção da ordem. Além do mais é um desrespeito com a população que tem de correr de um lado para outro sem saber onde cairão os alimentos. Só os pegam os que correm mais e são mais fortes.
Raymond Joseph, Embaixador do Haiti nos EUA também solicitou o fim dessa prática que “está provocando desordens”.
Os EUA aproveitaram a oportunidade para enviar mais dez mil soldados. “Como o Haiti é muito perto de Miami é preciso controlar uma provável fuga de haitianos para a Flórida. Desse modo não poderão dizer que os EUA estão invadindo o Haiti”, afirmou um jornalista no New York Times.
Dez mil soldados é uma nova invasão. Uma demonstração de que os EUA até hoje não aceitaram a derrota de terem tido que sair do Haiti para que lá ficasse a Missão da ONU composta por 36 países e liderada pelo Brasil.
A imprensa monopolista justifica. Afinal, o Haiti precisa de ajuda. Daí a necessidade de mostrar o pânico, o desespero, a falta de controle, a ação de bandidos roubando os bolsos dos cadáveres e tudo que deponha contra o Haiti, a Missão da ONU e sirva de desculpa para a ocupação do país pelas tropas dos EUA.
O momento agora é de reconstrução e recuperação do país e do Estado haitiano reforçando sua capacidade de impulsionar e induzir o desenvolvimento do Haiti como nação livre e independente. E a presença de dez mil soldados americanos “no terreno”, forçando a entrada sem autorização da ONU se constitui no maior obstáculo a isso.
ROSANITA CAMPOS
Publicado no Jornal Hora do Povo
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