quinta-feira, 30 de junho de 2011

Capitalismo e reforma

Por  Wladimir Pomar


As criticas de ultra-esquerda aos governos Lula e Dilma continuam batendo na tecla de que ambos não fazem nada mais do que consolidar o capitalismo no Brasil. Lula não teria discutido, e Dilma continuaria sem discutir, a reforma da educação, que deveria abarcar os conceitos de amplitude e horizontalização. Nem a reforma agrária, que continuaria escondida, como se não fosse necessária. Nem a reforma urbana, abarcando os problemas relacionados com os locais onde as pessoas vivem, trabalham e circulam.

O mesmo estaria acontecendo com a reforma da saúde e dos transportes públicos, com a proteção ambiental e da qualidade do solo, do ar e da água, assim como com o volume de investimento em ciência, tecnologia e pesquisa. A diferença entre a privatização anterior e a privatização dos governos petistas estaria em que estes colocariam as empresas públicas como instrumento a favor dos interesses privados. Portanto, o que existiria seria o aprofundamento do capitalismo. Dilma estaria, assim, reforçando as tendências neoliberais, ao mesmo tempo em que daria continuidade ao assistencialismo do Programa Bolsa Família. No entanto, ainda segundo a ultra-esquerda, o que o Brasil precisaria seria autonomia, promoção da independência, que só se faria com reformas urbana, agrária, na educação, nos transportes e na infra-estrutura, para transformar a sociedade. Isto
ainda não seria uma revolução, mas seria uma reforma que reestruturaria o que existe, dando à sociedade novo sentido, direção e conteúdo. Convenhamos, se é isso o que a ultra-esquerda pretende, ela está perdendo o fôlego. Ela já se contenta em reestruturar o que existe (o capitalismo), dando a essa sociedade (capitalista) um novo sentido, direção e conteúdo, através da educação e das reformas urbana, agrária, nos transportes  e na infra-estrutura, e da autonomia e independência. Que diferença tem isso com a consolidação e aprofundamento do capitalismo que, segundo ela, Dilma estaria realizando?

Um dos problemas da ultra-esquerda é que continua não distinguindo neoliberalismo de liberalismo. É verdade que ambas são políticas oriundas do capitalismo, do mesmo modo que o democratismo burguês. No entanto, do mesmo modo que o liberalismo foi a política de superação do democratismo burguês, o neoliberalismo é a política de superação do liberalismo. O democratismo burguês marcou a revolução burguesa, prometendo liberdade, fraternidade e igualdade para todos, enquanto o liberalismo, que o sucedeu, fincou pé na liberdade de compra e venda da força de trabalho pelo capital, na fraternidade da paz social, mesmo que com o auxílio das baionetas, e na igualdade formal das oportunidades, mesmo que a igualdade formal do sufrágio universal tivesse que ser conquistado nas barricadas. De qualquer modo, o liberalismo marcou o período de consolidação do capitalismo, no qual todos os seus ramos gozavam de liberdade, fraternidade e igualdade na concorrência do mercado.

O neoliberalismo, por sua vez, exacerbou a chamada livre competição, mas num período em que o grau de concentração e centralização de algumas corporações empresariais transnacionais alcançaram tal nível, que elas negam tal competição. Praticam o monopólio e o oligopólio, especialmente financeiro, com preços administrados, que lhes permitem lucros máximos. O neoliberalismo sucedeu o liberalismo, tornando-se política específica das grandes corporações transnacionais, que inclui a destruição das grandes, médias e pequenas empresas capitalistas que lhes fazem cócegas. A política neoliberal teve como vertente principal as recomendações do Consenso de Washington, que propugnavam a total desregulamentação econômica, financeira e trabalhista, o fim das barreiras nacionais ao livre comércio, a privatização de todos os ativos estatais e públicos, e a desmontagem dos Estados nacionais e sua transformação em Estados mínimos, responsáveis por políticas sociais compensatórias.

Paralelamente, como vertente secundária e complementar, a política neoliberal compreendia a financeirização das corporações e a especulação financeira como elementos importantes na maximização dos lucros, e a segmentação dos elos das cadeias produtivas das corporações e sua re-localização em países e regiões que oferecessem melhores condições de mão-de-obra barata, infra-estrutura menos onerosa, e estabilidade política e social. O conjunto das vertentes acima é o que se convencionou chamar de globalização.

Nos países que em que seus governos capitularam à vertente das recomendações neoliberais do Consenso de Washington, realizando uma inserção subordinada na globalização, esta representou um desastre, como aconteceu especialmente no Brasil e América Latina, levando à quebradeira do parque industrial e do Estado, e à destruição de uma parte da burguesia local. No entanto, nos países que não aceitaram o Consenso de Washington, mas aproveitaram o processo de segmentação corporativa das cadeias produtivas para industrializar-se e desenvolver suas forças produtivas, ingressando de forma soberana na globalização, esta contribuiu para sua emergência como novas potências econômicas, reforçando seu capitalismo liberal e seu Estado e, em vários casos, também suas empresas estatais.

Esse duplo resultado do neoliberalismo o levou a perder a hegemonia que alcançara nos anos 1990. O Brasil e vários países da América Latina, que sofreram as conseqüências do Consenso de Washington, tem procurado, desde o inicio dos anos 2000, ingressar na senda da vertente desenvolvimentista aberta pelos países emergentes, em contraposição àquele Consenso, embora ainda sofrendo a pressão neoliberal. Afinal, o neoliberalismo das corporações transnacionais perdeu terreno, especialmente para o liberalismo, mas não morreu.

Portanto, se quisermos examinar as políticas do governo Lula e Dilma, e não fizermos qualquer distinção entre neoliberalismo e liberalismo, estaremos confundindo a burguesia industrial e comercial com a burguesia financeira, e as empresas nacionais médias e grandes com as empresas corporativas transnacionais. Estaremos colocando tudo num mesmo saco, sem saber o que fazer com suas contradições. O resultado só poderá ser o parto de um rato, como essa reforma de transformar a sociedade através de reformas que não tocam na propriedade dos meios de produção.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Lista tríplice: “Guarapuava sai perdendo mais uma vez", diz vereador Antenor

Lista tríplice: “Guarapuava sai perdendo mais uma vez", diz vereador Antenor
Foto: Rede Sul de Notícias




“Guarapuava está seguindo o caminho inverso da democracia.” A afirmação foi feita pelo vereador Antenor Gomes de Lima (PT) logo após o resultado da votação que manteve o veto do prefeito Fernando Ribas Carli à emenda que derrubava a escolha dos membros do Conselho Municipal de Educação pela lista tríplice.


A emenda proposta por Antenor tinha sido aprovada em três votações pelos vereadores, mas ao ser encaminhada para sanção do prefeito, Carli vetou as alterações e decidiu pelo poder de escolher os integrantes do conselho. Antenor lamentou essa atitude e lembrou que o prefeito “não é eterno.”

O vereador petista tentou de todas as formas mudar o posicionamento articulado pela bancada “Carlista” argumentando a importância da emenda para a participação popular no conselho. Apesar do apelo feito por Antenor o veto do prefeito ficou mantido por 7 votos a 4 votos.
O vereador Nélio Gomes da Costa estava ausente da sessão.

Antenor ratificou também o atrelamento da Câmara ao Poder Executivo. “ Não houve compreensão da bancada do prefeito. Guarapuava sai perdendo mais uma vez”, lamentou.

Rede Sul de Notícias

Plano Safra da Agricultura Familiar será lançado em Francisco Beltrão

Deputados destacam liderança da deputada Luciana na articulação com a ministra Gleisi Hoffmann para trazer a presidenta Dilma ao Paraná

Assessoria de Imprensa Luciana Rafagnin

Além de fato inédito, o lançamento do Plano Safra da Agricultura Familiar (2011/2012) em Francisco Beltrão, pela primeira vez fora de Brasília-DF, já repercute como um banho de auto-estima na população do Sudoeste do Paraná. A região comemora a vinda da primeira presidenta do Brasil e a primeira vez que um chefe da nação vem ao município. A deputada estadual Luciana Rafagnin (PT) fez uso da palavra na sessão da Assembleia Legislativa desta segunda-feira (27) para detalhar os preparativos da visita oficial da presidenta Dilma Rousseff ao Paraná. “Lançar o Plano Safra da Agricultura Familiar em Beltrão é reconhecer o Sudoeste como região-berço desse segmento e fazer justiça à história bonita de luta, de resistência, de organização social e de conquistas”, disse Luciana.

A deputada aproveitou para agradecer o empenho da ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, no reforço a esse convite. “A sensibilidade e empenho da ministra foram fundamentais e conferem justiça a uma população que desde a Revolta dos Colonos, em 1957, luta ativamente para obter avanços, como o do acesso ao crédito (Pronaf), na área da saúde (Hospital Regional), pela moradia digna (Habitação Rural e o programa Minha Casa, Minha Vida) e também pelo acesso ao ensino superior público (Universidade Federal da Fronteira Sul-UFFS, curso de Medicina para o campus da Unioeste na região e a presença da Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR)”, argumentou.

O anúncio do pacote da agricultura familiar acontecerá na próxima sexta-feira (1º de julho), a partir das 14h, no Ginásio Arrudão, na rua Tenente Camargo, bairro Presidente Kennedy. O convite às autoridades está sendo emitido pelo ministro do Desenvolvimento Agrário (MDA), Afonso Florence, que também participará da cerimônia. Outra autoridade que já confirmou presença é o presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Hereda. Dilma vem anunciar a liberação de R$ 16 bilhões em crédito rural aos agricultores familiares, nas linhas de custeio e investimento do Pronaf, medidas que facilitam o acesso aos financiamentos e garantia de assistência técnica, com aporte de R$ 127 milhões.

A articulação e capacidade de liderança das petistas Luciana e Gleisi para trazer Dilma ao Paraná foram destacadas nos pronunciamentos dos deputados Augustinho Zucchi (PDT) e Elton Welter (PT), por evidenciar a valorização que o governo federal confere ao Estado do Paraná. Luciana lembrou que acontecerá, paralelamente ao lançamento do plano safra em Beltrão, o encontro estadual de famílias beneficiárias dos programas de habitação, promovido pela Cooperhaf – Cooperativa de Habitação da Agricultura Familiar. Só no Paraná e somente por meio das parcerias com a cooperativa, já foram construídas, reformadas ou ampliadas mais de 5.300 casas em 74 municípios. Desde o ano passado, o governo federal estendeu essa parceria à modalidade rural do programa Minha Casa, Minha Vida.

sábado, 25 de junho de 2011

Artigo

Supersecretarias equiparam o Paraná a reinado medieval

Enio Verri

O Paraná elegeu governador Beto Richa com o pressuposto de que o Estado iria experimentar um novo modelo de gestão pública, pautado pelas concepções mais modernas de gerenciamento estatal. Menos de seis meses depois de chegar ao Palácio das Araucárias, entretanto, Richa adota uma medida extremamente ultrapassada, medieval.

A reforma administrativa do governador propõe a criação de duas supersecretarias, comandadas por Fernanda Richa e José Richa Filho, esposa e irmão de Beto Richa. Juntas, as pastas serão responsáveis por, no mínimo, 80% do orçamento do Estado. Tamanha concentração de poder encontra paralelo, com as devidas proporções, no final da Idade Média, quando alguns reis (e suas famílias) detinham todo o poder de decisão sobre a organização do Estado.

A proposta que o governador enviou à Assembleia Legislativa sugere a implosão da Secretaria da Criança e da Juventude, que passa a se chamar Secretaria da Família e do Desenvolvimento Social. A nova pasta irá coordenar toda a área de assistência social, gerenciando os programas sociais do governo federal no Paraná, entre eles o Bolsa Família, Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) – Compra Direta, Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) e Brasil Sem Miséria.

O projeto ainda prevê a dissolução das Secretarias de Obras Públicas e dos Transportes. Elas serão unificadas na Secretaria Estadual de Infraestrutura e Logística. A pasta ficará encarregada por planejar e executar a estruturação física do Paraná: rodovias, ferrovias e aeroportos, além de subordinar importantes órgãos estatais como o Porto de Paranaguá, Departamento de Estradas de Rodagem (DER) e Departamento Estadual de Trânsito (Detran).

Com as mudanças, esposa e irmão, secretários da Família e Desenvolvimento Social e de Obras Públicas e dos Tranportes, serão responsáveis por mais de 80% de aproximadamente R$ 23 bilhões, orçamento estimado do Paraná para 2011.

A mensagem também legisla sobre alterações na Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos; Secretaria de Trabalho, Emprego e Economia Solidária e a criação de 295 cargos comissionados, de livre nomeação, para serem distribuídos entre as novas pastas e a Procuradoria Geral do Estado.

O debate, entenda-se, não está na capacidade gerencial e competência técnica de Fernanda Richa e José Richa Filho, não ocorre no âmbito legal – a criação das pastas não desrespeitam a Lei de Responsabilidade Fiscal – nem tampouco no impacto financeiro das mudanças para os cofres do governo. O questionamento ocorre na esfera política e da gestão pública.

A medida enfraquece as demais secretarias, que terão invariavelmente menos possibilidades de persuadir o governador em favor de suas políticas e debilita o debate com os próprios aliados. Ademais, potencializa uma inquietante possibilidade: a crescente indisposição do núcleo do governo em lidar com vozes dissonantes, uma vez que, com a medida, o Paraná é tomado como um reinado medieval. Justifica-se aqui remeter à censura que o governador impõe a um jornalista blogueiro do Estado.

Sob a ótica da gestão pública, tão maléfico quanto um governo acéfalo é um governo altamentre centralizador. O Paraná, desta maneira, percorre o caminho inverso que qualquer modelo moderno de gestão indica, baseado fundamentalmente no equilíbrio, na multiplicidade de opiniões e na participação coletiva na elaboração de políticas públicas. Com a medida, o governo Beto Richa apresenta nos primeiros meses de mandato uma perigosa incoêrencia entre o dizer e o agir.

* Enio Verri é Economista, Deputado Estadual líder da oposição na Assembleia Legislativa e presidente do Diretório Estadual do PT do Paraná.