Supersecretarias equiparam o Paraná a reinado medieval
Enio Verri
O
Paraná elegeu governador Beto Richa com o pressuposto de que o Estado
iria experimentar um novo modelo de gestão pública, pautado pelas
concepções mais modernas de gerenciamento estatal. Menos de seis meses
depois de chegar ao Palácio das Araucárias, entretanto, Richa adota uma
medida extremamente ultrapassada, medieval.
A reforma administrativa do
governador propõe a criação de duas supersecretarias, comandadas por
Fernanda Richa e José Richa Filho, esposa e irmão de Beto Richa. Juntas,
as pastas serão responsáveis por, no mínimo, 80% do orçamento do
Estado. Tamanha concentração de poder encontra paralelo, com as devidas
proporções, no final da Idade Média, quando alguns reis (e suas
famílias) detinham todo o poder de decisão sobre a organização do
Estado.
A proposta que o governador
enviou à Assembleia Legislativa sugere a implosão da Secretaria da
Criança e da Juventude, que passa a se chamar Secretaria da Família e do
Desenvolvimento Social. A nova pasta irá coordenar toda a área de
assistência social, gerenciando os programas sociais do governo federal
no Paraná, entre eles o Bolsa Família, Programa de Aquisição de
Alimentos (PAA) – Compra Direta, Programa de Erradicação do Trabalho
Infantil (Peti) e Brasil Sem Miséria.
O projeto ainda prevê a
dissolução das Secretarias de Obras Públicas e dos Transportes. Elas
serão unificadas na Secretaria Estadual de Infraestrutura e Logística. A
pasta ficará encarregada por planejar e executar a estruturação física
do Paraná: rodovias, ferrovias e aeroportos, além de subordinar
importantes órgãos estatais como o Porto de Paranaguá, Departamento de
Estradas de Rodagem (DER) e Departamento Estadual de Trânsito (Detran).
Com as mudanças, esposa e irmão,
secretários da Família e Desenvolvimento Social e de Obras Públicas e
dos Tranportes, serão responsáveis por mais de 80% de aproximadamente R$
23 bilhões, orçamento estimado do Paraná para 2011.
A mensagem também legisla sobre
alterações na Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos;
Secretaria de Trabalho, Emprego e Economia Solidária e a criação de 295
cargos comissionados, de livre nomeação, para serem distribuídos entre
as novas pastas e a Procuradoria Geral do Estado.
O debate, entenda-se, não está
na capacidade gerencial e competência técnica de Fernanda Richa e José
Richa Filho, não ocorre no âmbito legal – a criação das pastas não
desrespeitam a Lei de Responsabilidade Fiscal – nem tampouco no impacto
financeiro das mudanças para os cofres do governo. O questionamento
ocorre na esfera política e da gestão pública.
A medida enfraquece as demais
secretarias, que terão invariavelmente menos possibilidades de persuadir
o governador em favor de suas políticas e debilita o debate com os
próprios aliados. Ademais, potencializa uma inquietante possibilidade: a
crescente indisposição do núcleo do governo em lidar com vozes
dissonantes, uma vez que, com a medida, o Paraná é tomado como um
reinado medieval. Justifica-se aqui remeter à censura que o governador
impõe a um jornalista blogueiro do Estado.
Sob a ótica da gestão pública,
tão maléfico quanto um governo acéfalo é um governo altamentre
centralizador. O Paraná, desta maneira, percorre o caminho inverso que
qualquer modelo moderno de gestão indica, baseado fundamentalmente no
equilíbrio, na multiplicidade de opiniões e na participação coletiva na
elaboração de políticas públicas. Com a medida, o governo Beto Richa
apresenta nos primeiros meses de mandato uma perigosa incoêrencia entre o
dizer e o agir.
* Enio Verri é Economista,
Deputado Estadual líder da oposição na Assembleia Legislativa e
presidente do Diretório Estadual do PT do Paraná.
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